Busão de Bach

Interior do ônibus bi-articulado no sentido Centro em horário de rush. Fundo musical Chaconne da Partita nº 2 em ré menor para violino solo de Johann Sebastian Bach. Minha mente pensa:

Que tipo de música toca no U-Bahn de Viena, isto é, no metrô da capital musical da Europa? Será que os passageiros ouvem valsas, polcas e marchas vienenses? Ou será que não tocam nada? Eu nunca estive lá, portanto não sei. Mas, fico aqui pensando enquanto o violinista manda ver nas síncopes, nos ritmos pontuados e na riquíssima ornamentação. Mas eu não sei o que toca no metrô ou nos ônibus de Viena.

E se tocassem um axé no U-Bahn? Ou um pagodinho do Belo, uma moda de viola, uma faixa do cd Funk Brasil mais Funk do DJ Marlboro, a voz estridente de uma dupla sertaneja, ou quem sabe até o padre Fabio ou uma cantora gospel? Acho que se isso acontecesse a burguesia iria cair matando! Não, não a burguesada da Áustria, mas sim a burguesada brasileira! Afinal de contas, executar música erudita no busão pode! Mas tocar música popular brasileira para o povão austríaco, não pode!

Por que é que a gente é obrigado a ouvir aquela música erudita entorpecente às 5, 6 ou 7 da manhã a caminho do trabalho? Por que não tocam Calypso? Eu posso até não gostar deles, mas pelo menos eu não ia ficar com medo de babar no ombro do cara sentado a meu lado, já que a desgraça do Strauss ou do Beethoven só pioram a merda do meu sono! Olha que ironia: desde 2004 que Joelma e Chimbinha se apresentam na Europa e no ano passado a música “Doce Mel” foi a mais executada na Itália e na França. Ah, eles devem tocar Calypso em Viena!

Fico com dó do carinha ouvindo um oratório de Händel às 19:00h depois de trabalhar feito um jumento pra ganhar quinhentão e levar mijada do chefe.

Achei umas entrevistas no site da Prefeitura de Curitiba relacionadas à música nos ônibus:

– A dona de casa Marta Rodrigues, 29 anos, também moradora de Fazenda Rio Grande, aprecia a escolha do estilo clássico para a música ambiente nos ônibus de Curitiba, mas, quem aprova mesmo, é o filho Pedro Henrique, de 2 anos. “Ele adora dormir no ônibus e, neste caso, a música funciona como uma canção de ninar. Eu também relaxo e nem sinto passar o tempo da viagem”, diz.

Isso só pode ser matéria paga pelo governo.

O que a dona Marta queria dizer era o seguinte: Ói seu moço eu num gosto dessas músicas não. Meu fio passou a noite toda com ranho escorrendo do nariz e eu vou ficar quatro horas na fila do postinho. Será que ceis num pode tocar umas modinhas de Tonico e Tinoco ou Irmãs Galvão pra mó de nois se adistrair?

– O joalheiro Mário Meger, 48 anos, aprova a programação de música clássica nos ônibus. “É uma música de boa qualidade, relaxante, e tem valor didático para aquelas pessoas que não conhecem o estilo clássico”, afirma.

Mas o Mário [não aquele que queria te catar atrás do armário] queria dizer era o seguinte: Essas músicas que o prefeito colocou parecem um velório. Me dão um aperto no peito, uma vontade de chorar! Por que é que ele não solta um vanerão com Os Serranos ou O Gaucho da Fronteira? Pode até colocar o Bispo Macedo cantando que é melhor que essa merda!

Jesus me perdoe, mas se você quer saber, eu trocaria todo esse lirismo Cristão por qualquer heresia do tipo Xô Satanás do Asa de Águia, ou Belzebu de Saia de Zeca Baleiro…

Bem, estou quase chegando à minha casa e esta noite eu não posso perder o programa eleitoral porque tem Heloisa Helena e depois tem Caminho das Índias que tá bombando!

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